Se correr o bicho pega, se ficar…

É quase sempre assim: basta eu apertar o botão de “foda-se” e desligar um pouco de um assunto por que estou obcecada para que tudo dê uma reviravolta da noite para o dia.

Há dois meses, quando deixei Montréal, combinei com meu copain de vir “buscá-lo” nos Estados Unidos (o doido resolveu comprar passagens aéreas só até os States e fazer o trajeto de apenas dez horas para o Canadá). Como nem tudo no meu emprego é ruim, eu consegui fazer umas emendas e ganhei um feriado super prologado. As passagens foram compradas com milhas e a hospedagem já tinha sido paga pelo copain antes do dólar chegar nos quatro. Então toca a aproveitar o descanso – merecido, diga-se de passagem – sem maiores estresses. Ao menos esse era o plano.

O copain é o lado tranquilo de processo, enquanto eu sou a parte neurótica. A ideia de ir para o Canadá nasceu com ele, que volta e meia fica caçando países que aceitam imigrantes que trabalhem como autônomos, mas, para o azar dele (ou será sorte?), meu francês e minha idade menos avançada me tornam mais indicada para ser a requerente principal. Por causa disso desistimos de abrir o processo como trabalhador autônomo e esperamos pela abertura do trabalhador qualificado.

Desde abril estamos tentando organizar a papelada, e o primeiro passo foi regularizar nosso estado civil. Porque nós não somos casados e nunca precisamos comprovar união estável pra nada. Ainda por cima, como cada um tem seu apartamento (que ele utiliza como escritório), nunca vimos necessidade de trocar titular de conta, etc, etc. Já deu pra sentir o drama? Estamos juntos há cinco anos, mas em termos de documentos, só temos como comprovar os últimos seis meses. 

Leve-se em conta também que, nessa tranquilidade toda, o copain ainda não tem nenhum dos históricos escolares (alguém sabe se certificado de conclusão do segundo grau é mesmo obrigatório?), e ainda precisa autenticar e traduzir certidão de nascimento, diploma universitário, registro de criação da empresa e imposto de renda (exigidos para comprovar a experiência profissional dele como autônomo na mesma área de formação acadêmica, já que o diploma foi emitido há mais de cinco anos). Ou seja, ainda falta tudo!

Só por isso, já devia estar claro pra mim que gente não poderia enviar nada antes de janeiro. Mas quem disse que gente ansiosa tem clareza de alguma coisa? Da minha parte, só falta traduzir a carta do empregador, que está desde segunda na mesa da minha chefe esperando pra ser assinada (culpa minha que disse para ela não ter pressa).

Pra ajudar, só chego a São Paulo no fatídico dia 04, ou seja, com tanta coisa a providenciar, não conseguiremos enviar nada antes da segunda quinzena de novembro. Será tarde demais? Alguém arrisca um palpite sobre quando o máximo de 3500 pedidos por papel será atingido? Eu só tenho certeza de que será antes de 15 de dezembro… 

E vocês, já estão com tudo pronto pra dar entrada no pedido ou vão aguardar o novo sistema em janeiro?

Foi dada a largada!

Pois é, pessoal. Acabo de receber um e-mail do MIDI avisando que quem já estiver com a documentação pronta, pode enviar a solicitação de imigração como trabalhador qualificado a partir da próxima quarta-feira, dia 04. Quem ainda estiver enrolado, pode deixar para se inscrever um janeiro. As 6300 vagas atuais foram dívidas em dois blocos, um que abre agora é fecha em 15 de dezembro, que vai ser feito no modelo tradicional (documentação em papel enviada por correio), e outro que abre em janeiro, com documentação enviada eletronicamente.

Mais informações no link do MIDI: http://www.immigration-quebec.gouv.qc.ca/fr/informations/regles-procedures.html

Eu ainda não sei o que vou fazer… Amanhã conto o porquê (agora é hora de buscar o copain na gare).

Lost in translation

A Sophia Coppola que me perdoe mas foi inevitável roubar o título de filme para o post de hoje. Esta tarde eu tive o primeiro contato com a dura realidade do candidato à imigração: não basta preencher o contrato de autonomia financeira, é preciso bancar o processo.

Tudo começa na reunião dos documentos, parte que eu, toda feliz, encerrei ontem. Quer dizer, encerrei mais ou menos, porque ainda falta a carta do meu empregador (que eu quero pegar mais pra frente) e e alguns documentos do copain (que ele ainda nem começou a correr atrás). Mas como tenho o plano de enviar os documentos de escolaridade para a évaluation comparative, decidi que já era hora de encarar a facada da tradução. Eu sabia que seria um corte fundo, mas não achei que ela pudesse me estraçalhar! rs

Aqui em São Paulo só pode fazer tradução juramentada aquele que tiver passado no concurso da Jucesp para tradutor público. Assim como um cartorário, ele tem um livro para registrar todas as traduções “oficiais” que vier a fazer e, assim como num Cartório, ele deve seguir uma tabela de preços previamente fixados para cada um dos serviços que lhe compete. Não pode (ou não deveria) cobrar nem mais, nem menos. Ressalto que o tradutor é SEMPRE uma pessoa e nunca uma empresa. Então por que diabos tem tanto escritório/empresa de tradução em São Paulo?

Naquelas aulas de introdução à tradução que fiz na USP no começo deste ano, dois colegas de sala trabalhavam num desses escritórios. A própria professora era uma tradutora juramentada. E numa dessas aulas, falando sobre a atividade do tradutor juramentado, eles contaram que é muito comum que alguns tradutores públicos se reúnam, abram uma empresa e contratem tradutores “comuns” (ou seja, não concursados) para trabalharem para eles. Contaram ainda que tradutor público não pode recusar serviço e que a demanda é sempre maior do que eles dão conta, daí contratar “ajudantes” passa a ser inevitável. Resumindo: alguém faz o trabalho sujo e o outro cola o selo, como se tivesse sido feito por ele. Se isso é ilegal ou não, eu não sei, mas essa exploração de mão-de-obra barata é a única explicação que encontro para os orçamentos que recebi hoje.

Enviei 25 paginas para orçar uma versão em INGLÊS dos seguintes documentos:
– 3 diplomas (é, eu coleciono)
– 5 históricos escolares (referentes aos três diplomas e meus dois intercâmbios)
– 3 comprovantes de união estável (contrato de conta conjunta, conta de luz e telefone)
– 1 extrato de vínculo empregatício (cujo carimbo do INSS deve ter sido dado com a almofada mais sem tinta de todo o serviço público brasileiro, pois mal dá pra ler)
– 1 certidão de nascimento

Segundo duas empresas que consultei, as 25 páginas se transformaram em 40 laudas de 1000 caracteres sem espaço cada uma. Pela tabela da Jucesp, cada lauda de texto comum (como a certidão de nascimento) custa R$ 52,70 e cada lauda de texto especial (como os diplomas) custa R$ 73,10. A mesma tabela também prevê que se eu quiser uma segunda via de algum documento, ele vai custar 20% do valor da tradução/versão. Assim, por mais salgado que tenha sido o orçamento que coloquei aqui durante a tarde, ele é um orçamento sério e em conformidade com a Jucesp, que ficaria pronto em três dias.

O que eu não consegui entender foi que, duas horas depois do meu desabafo aqui no blog, recebi outros dois orçamentes que em tese faziam o mesmo serviço por menos da metade do preço, em torno de R$ 1500,00 por 38 laudas, com prazo de entrega de sete dias. Mas se é a Jucesp quem determina o valor da tradução, como eles podem cobrar mais barato? E o fato é que fiquei com a pulga atrás da orelha…

Decidi então passar numa das agências para tirar algumas dúvidas, já que ela ficava perto da Aliança e hoje eu teria aula. Quando perguntei dos valores mais baixos me disseram que estavam fazendo o preço de estudante, por causa dos vários diplomas que eu estava mandando traduzir. Acontece que nem eu sou estudante (a não ser que aula de francês conte) nem a Jucesp prevê um valor diferenciado para estudantes. Também me informaram que tinham ignorado o meu pedido das segundas vias e que se as quisesse, teria que acrescentar mais uns R$ 200,00 no valor do serviço. No cartão da empesa, pas de nom du traducteur.

Pra quem não sabe, o Jucesp também disponibiliza a lista de tradutores públicos no estado de São Paulo. A minha atual professora de francês na Aliança está nesta lista e disse que poderia fazer o trabalho, desde que não tivesse urgência. Fiquei de mandar as cópias todas para ela olhar e me dar uma previsão, mas não acho que ela fará um preço menor do que aquele primeiro que recebi, a não ser que ela conte lauda de alguma maneira diferente dos demais…

Do ponto de vista de alguém que já pensou várias vezes em ser tradutora, acho muito errado pagar um valor inferior ao da tabela. Acho mais errado ainda quando esse valor só é possível porque tem alguém sem a formação apropriada fazendo o serviço em troca de merreca. Sei que muita gente vai dizer que tem um amigo, irmão, cunhado, periquito, papagaio que sabe inglês melhor que muito tradutor formado em universidade, mas eu estou falando da realidade que eu conheci: os meus colegas de classe, que trabalhavam para estas empresas, estavam no segundo, terceiro ano de faculdade e o francês deles tava longe de um TCF B2, não importa em qual competência. E não falo isso pra diminuir ninguém: eles estavam em busca da experiência profissional e queriam começar em algum lugar. O certo seria que o Jucesp fizesse mais concursos e que os tradutores juramentados conseguissem dar conta da demanda existente sem explorar ninguém, mas utopia só serve pra gente sonhar mesmo.

Para me garantir, pedi para as agencias informarem quem é o cidadão que vai “fazer” (ou seja, assinar) as versões, para que eu possa conferir na Jucesp se eles realmente são tradutores públicos, assegurando assim a validade dos documentos. Mas, sinceramente, je ne sais pas quoi faire. Estou aqui, perdida e insone (pra variar), sem saber se dou ouvidos à minha ideologia ou ao meu bolso (mas com a ligeira sensação de que o bolso vai ganhar).

PQP

Pelo visto eu vou ter que fazer muita hora extra no trabalho mesmo… O orçamento mais baixo que obtive para a minha parte nas traduções (o copain ainda precisa providenciar algumas coisas quando voltar do Canadá) ficou mais de R$ 3.000,00. E pensar que esta é só a primeira facada. É agora que eu sento e choro?

THESE ARE CRAZY TIMES

Depois de uma semana insana no trabalho, uma recompensa: viva o feriado! 🙂 Minha contagem regressiva também está cada vez mais veloz. Agora faltam apenas 18 dias para reencontrar o copain. Para quem já está longe há 40, isso não é nada.

Esta semana eu me dediquei a conseguir as copies certifiées conforme dos nossos diplomas e históricos. Isso não é exatamente fácil quando você e seu namorado estudaram em cidades distintas e a pelo menos 450 km de distância do lugar onde moram hoje. Além disso, meu histórico escolar do curso de Letras é meio caótico, pois fiz dois intercâmbios e ainda aproveitei créditos do curso de Jornalismo para conclui-lo. Por conta disso tudo, decidi que vou desperdiçar ainda mais dinheiro e, assim que receber minhas cópias certificadas, vou mandar traduzi-las e entrar com o pedido de évaluation comparative des études.

Por que você teima em gastar dinheiro à toa, menina? Bom, a minha desculpa no momento tem a ver com o reconhecimento da Ordem dos profissionais de recursos humanos do Québec. Sim, eu já falei que não gosto dessa área, mas eu não posso negar que 70% da minha experiência profissional (100% se considerar os últimos cinco anos) consiste em trabalhos nessa área. E tem também um fato curioso que me deixou muito animada: descobri que a Ordem considera as graduações na área de Educação como área correlata.

Assim, se a évaluation comparative atestar que meu diploma de Licenciatura em Letras é equivalente ao de Formation des enseignantes specialisées au primaire et au secondaire (vi no fórum Brasil-Québec que eles avaliaram outros diplomas de licenciatura dessa maneira), eu não apenas garanto mais 6 pontos de domaine de formation, mas também afasto o fantasma do “envelhecimento” do diploma que é algo que me preocupa desde sempre. Para quem não sabe, o diploma só pontua caso ele tenha sido obtido nos últimos cinco anos. Caso contrário, para pontuar com seu diploma universitário, você precisa provar que trabalhou na sua área de formação por pelo menos um ano durante os últimos cinco.

Se a évaluation comparative me disser que meu diploma é de Langue et Litterature françaises, daí eu já começo o processo ciente de que não poderei contar com tais pontos. E aí precisarei rezar para que o BIQ resolva analisar meu dossier antes de agosto de 2016 (o que, com todo esse atraso para a abertura do processo, pode ser que não aconteça). Em último caso, a louca aqui está pensando até em se inscrever no curso técnico de Administração do Senac, para pontuar com um AEC em Bureautique. C’est fou, non? 🙂

Se o processo reabrir antes de eu conseguir essas respostas, mando só os documentos traduzidos e seja o que Deus quiser. Falando em tradução, o que vocês recomendam: fazer a tradução juramentada por aqui ou arranjar um tradutor membro da OTTIAQ? Eu ainda não consegui entender se o BIQ aceita documentos de tradutores brasileiros e os orçamentos que fiz com os tradutores canadenses me assustaram um bocado (deve ser a alta do dólar)…

Le futur composé

Não, eu não descobri (mais) um tempo verbal pra aprender na língua francesa. Quis apenas fazer uma brincadeira com a tradução literal desse “futuro composto”, c’est à dire, com este futuro que estou tentando compor linha por linha, como se criasse um enredo para minha vida.

Talvez minha explicação tenha tornado a ideia ainda mais confusa. Já nem sei… Minha cabeça anda tão atormentada pelo meu trabalho caótico que começo a duvidar de mim mesma. A verdade é que eu entrei numa fria (por opção, é verdade) e agora não sei como (nem se posso) sair dela sem me meter noutra maior ainda.

A maioria das pessoas entende que promoção no emprego é sinônimo de sucesso profissional. Bem, trabalhando há quatro anos com Recursos Humanos eu não poderia pensar diferente: ser promovido é sinal de que alguém reconhece seu esforço, que alguém dá valor ao seu trabalho, mesmo que de vez em quando você meta os pés pelas mãos. Mas o que a gente faz quando é reconhecido por fazer um trabalho que na verdade a gente nem gosta, simplesmente faz? Pior, o que a gente faz quando a tal promoção implica em liderar uma equipe, ser “chefe” dos seus até então colegas, quando só de tentar falar dos seus planos pra sua área sua boca seca, seu coração acelera e a cabeça fraqueja?

Hoje foi meu primeiro como titular nessa nova função e tudo o que eu consigo pensar é que eu não queria estar lá. E quando isso acontece, eu me pego repetindo como um mantra: é pelo Canadá, é pelo Canadá! Porque é essa graninha extra que me permite pagar o curso de francês, visto e viagem de prospeção. É esse extra, que eu vinha recebendo ocasionalmente como substituta, que tem me dado condições de sonhar com este processo sem me afundar em dívidas.

É engraçado que, na maioria dos blogs, as pessoas parecem preocupadas com essa questão de recomeçar do zero profissionalmente, de ter de voltar a fazer os trabalhos que faziam no início da carreira. Comigo acontece o contrário: o “zero”é minha maior esperança… A minha “fuga” para o Norte é também a minha chance de refazer escolhas que não tenho coragem de fazer aqui. E é aí que começam os meus conflitos internos…

Sou formada em Jornalismo, mas antes mesmo de terminar a faculdade eu já sabia que não trabalharia com Comunicação. Eu não tinha o mesmo brilho nos olhos, a mesma empolgação que meus colegas de classe. Eu estava ali porque gostava de escrever e achei que poderia fazer disso uma profissão, mas o que me encantava eram outros tipos de história. Quando terminei a faculdade, sem grandes aspirações profissionais, cai no mundo dos concursos. Desde então, já perdi as contas de quantas provas prestei e de quantos empregos sai. O curioso é que, por algum motivo desconhecido, todas as minhas funções sempre tiveram um pezinho na área de Recursos Humanos, mesmo que eu nunca tenha demonstrado a menor aptidão para isso.

Posso dizer que só fui me encontrar na faculdade de Letras: estudava por amor e as leituras mais difíceis raramente eram um sofrimento. Além disso, eu gosto de dar aula. Sei disso há muito tempo, mas nunca cogitei abandonar o meu emprego público administrativo e “burrocrático” para ser professora. A questão financeira pesa e hoje em dia sala de aula é quase sinônimo de ambiente insalubre, especialmente se você for trabalha para o Estado. Por algum tempo eu pensei que poderia ser professora universitária: cheguei a ingressar no mestrado em Literatura Brasileira, mas o fato de não ter bolsa de estudos combinado com uma oferta de emprego para trabalhar num consulado me fizeram abandonar tudo e mudar para São Paulo.

Hoje, lendo e relendo os formulários da imigração, não sei muito bem o que responder. Sua experiência profissional está relacionada à sua formação? Então, seu agente consular, isso depende, né? A gente tá falando do Brasil ou do Canadá? Porque se for aqui, dá pra criar uma história mirabolante dizendo que eu aplico todos os meus conhecimentos acadêmicos para gerenciar a comunicação organizacional e as relações interpessoais na minha “empresa”. Mas quando entro na ordem quebecoise dos profissionais de RH, até o curso de Letras tem mais a ver com a área que o meu curso de Comunicação.

Tem também aquela outra perguntinha básica: quando você chegar no Québec, você pretende trabalhar: (a) na sua área de estudos ou (b) na área em que detém experiência profissional? Mas prestatenção antes de responder porque RH é área prioritária e, se você descolar o emprego antes de chegar, tem até visto facilitado. Além disso, você acha que vai poder dar aula de quê por aqui? Português? Porque convenhamos, de francês é que não vai ser com esse monte de nativo dando sopa, né?

Vez ou outra eu namoro com a Tradução. Pensei inclusive em fazer um Mestrado antes de ir. Também pensei em fazer o Mestrado lá. Eu já pensei tanta coisa que já nem sei. Mon Nord est perdu.