(in)Decisões

Meu último relato aqui foi provavelmente bastante destoante de todos os demais, um desabafo com toda a carga emocional sentida no momento da escritura. Mais de um mês se passou e, desde então, muita coisa mudou: o copain chegou, arranjamos um apê para chamar de nosso (ao menos temporariamente) e o mestrado começou a fluir. Enfim, o rumo natural das coisas.

No entanto, há uma coisa que continua igual: o meu estado de indecisão. Durante o meu colapso do mês passado, havia chegado a conclusão de que devia abandonar a idéia estapafurdia de ir para o Canadá de um vez por todas. Ora, se eu estava tão miserável em Portugal, o que não seria de mim numa terra gelada onde nem minha língua falam? Fiquei de tal forma abalada que esta decisão parecia imutável. Fora o gasto de dinheiro que, decididamente, não cresce em árvores. Adieu, Canada!

E então chega o copain, o mesmo copain que cerca de ano atrás decidiu trocar de plano migratório, dizendo que eu não devia fazer isso, que devia tentar para não me arrepender depois. E nesse momento, meu coração já estava cicatrizando, já estava irremediavelmente propenso a novos arranhões. On y va, Canada!

Mas ir pra onde? Antes de prosseguir nessa divagação, é preciso fazer um adendo. Não sei se comentei alguma vez aqui, mas desde que tive o visto canadense aprovado, estou estudando maneiras de conciliar mestrado num país e residência permanente em outro. O site da UMinho me deu a impressão errônea de que o curso era oferecida em b-learning, ou seja, majoritariamente on-line, e isso parecia ser a solução dos meus problemas, afinal, poderia estar no Canadá e continuar os estudos aqui. Na verdade  tal b-learning funciona apenas como uma maneira de repor as aulas que os professores não conseguirem cumprir presencialmente, seja lá qual for o motivo, e com isso, meus planos  iniciais foram água abaixo.

Como eu sempre tenho um abecedário de planos, parti para o plano B: trancar o mestrado por um semestre e passar pelo menos três meses no Canadá. Tempo suficiente para receber o PR card e ficar apta à utilização dos serviços médicos da província onde eu me instalar. É a opção mais segura e certamente a mais provável de acontecer, mas estou resistente por dois motivos em especial. O primeiro são os três meses de “solidão” e a experiência portuguesa está bem fresca na memória para eu fingir que não vou sofrer com isso. O segundo, e talvez mais decisivo no momento, é o custo dessa brincadeira, pois não apenas teria que arcar com todos os custos da nova imigração, mas também perderia o ano de propinas pagas na universidade portuguesa, além de atrasar a conclusão do curso.

Tentei, finalmente, encontrar uma solução de médio prazo, que ainda não sei se é muito descabida. Pesquisando no site do CIC, descobri que os residentes permanentes que ainda não obtiveram o PR card podem deixar o país solicitando um visto de reentrada. É meio que um tiro no escuro: eu entro no país, fico um tempo, saio, e quando voltar, peço um visto de reentrada que pode ou não ser aprovado – e essa aprovação vai depender da minha justificativa, que, no caso, seria a conclusão do semestre de faculdade (não sei se é um motivo forte o suficiente para os canadenses). Isso seria realmente empurrar a decisão final com a barriga e entregá-la aos deuses, pois é muito incerta.

Mas existe um jeito de acelerar a emissão do PR card e, para isso, eu precisaria passar um mínimo de três semanas nas terras do Norte (que já nem estão tão ao Norte e sim a Oeste). Novamente teria que justificar essa urgência – e completar um ano de estudos não aparece no rol de justificativas possíveis do CIC. Entretanto, isso acabou me dando uma outra ideia que talvez pudesse funcionar.

O copain tem um amigo de longa data que mora desde quase sempre em Vancouver e a irmã de um grande amigo meu mora há muitos anos em Toronto. E se um deles pudesse receber o meu PR card? O que eu quero dizer é mais ou menos o seguinte: eu vou em março (pra algum lugar do Canadá), dou entrada no pedido do PR card urgente com o endereço de um deles, fico cerca de mês e volto para Portugal. Se julgarem meu pedido urgente, volto pra cá com o PR card em mãos; se acharem que não é, um desses amigos me remeteria o cartão depois, por Fedex, DHL ou qualquer coisa do gênero. E aí, enfim, no verão, de férias do mestrado, eu iniciaria de fato a imigração canadense, sem o medo de ter o visto de reentrada no país recusado.

Bom, acho que já dei nó na cabeça de muita gente. No próximo post, falo da minha outra indecisão: o destino.

Au revoir.

2 comentários sobre “(in)Decisões

  1. A Cocker in Canada disse:

    Oi! Eu e meu marido estamos numa situação um pouco parecida… recebemos o CoPR, mas não podemos nos mudar para o Canadá agora por causa do nosso trabalho. Nós vamos fazer o landing e daremos o endereço de amigos para receber os PR Cards. Vamos passar dois meses no Canadá, mas depois temos que voltar para o Brasil. Nossos amigos vão nos enviar os PR Cards, mas, pelo que eu pesquisei, tirar o PRTD é tranquilo e eles só negam o documento de viagem se vc não cumprir os requisitos de residência permanente.

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  2. Carlos disse:

    Vc não precisa ficar 3 meses no Canadá se tiver alguém que more lá e possa te ajudar. Eu também tinha uma pendência que me impedia de me mudar definitivamente até a data limite. Então eu passei apenas 1 semana no Canadá pra pegar minha residência e dei o endereço de um amigo pra receber o PR Card. O cartão chegou na casa deles uns 2 meses depois, ele me enviou por Fedex ao Brasil. Voltei em definitivo 1 ano depois, com meu PR Card.
    Sobre o seguro de saúde provincial, não vale a pena fazer o pedido nesse momento, lembrando que as regras variam muito em cada província. Algumas províncias são mais chatas com a documentação e exigem que vc tenha um contrato de aluguel no seu nome; algumas das províncias exigem na primeira renovação após 1 ano provas de que vc esteve presencialmente 6 dos últimos 12 meses lá; essa assistência é paga em algumas províncias; e finamente, vc vai ter carência de 3 meses do mesmo jeito caso decida morar definitivamente em uma província diferente de onde seu dossiê foi aberto. É muito mais simples e garantido pegar uma cobertura privada pra esses primeiros meses, além de não ser caro.

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